De filho de agricultores a estudante de Medicina: a trajetória inspiradora de Nattalos Casseano, jovem de Milagres

Foto: Acervo Pessoal

Aos 27 anos, o jovem Nattalos Casseano representa o sonho realizado de muitos brasileiros que enfrentam uma longa jornada até o ensino superior. Natural de uma antiga vila do município de Milagres, hoje bairro Padre Cícero, ele cursa atualmente o quinto semestre de Medicina na Universidade Estadual do Ceará (Uece), após quase sete anos de estudo ininterrupto, esforço pessoal e superação de barreiras sociais e econômicas. Sua trajetória foi tema de reportagem do jornal OPOVO.

Filho de agricultores analfabetos, dona Cícera Casseano de Sousa e José Ronaldo Manoel, Nattalos cresceu em um ambiente de trabalho árduo e poucas oportunidades. Ainda criança, acompanhava os pais e a irmã, Natanaeli de Sousa, nas atividades da roça. Estudava pela manhã e, à tarde, ajudava no campo. “Eu não tive muitas regalias, mas nunca faltou nada. Meus pais sempre se esforçaram para termos o mínimo dentro de casa”, conta.

Com o passar dos anos, o pai deixou a roça e passou a trabalhar como carroceiro, vendendo brita e areia. O esforço da família resultou na montagem de um pequeno comércio, mas a realidade ainda era marcada por limitações financeiras.

O desejo de ser médico surgiu cedo. Inspirado por profissionais da saúde que atuavam em uma Unidade Básica de Saúde próxima à casa de um amigo, Nattalos decidiu que queria seguir a carreira na área da saúde. “Eu via pessoas vestidas de branco e pensava: quero ser como essas pessoas”, lembra.

A caminhada foi longa. Em 2016, enquanto concluía o ensino médio, ele também fez um curso técnico em enfermagem. No ano seguinte, iniciou a maratona de cursinhos e estudos autônomos para alcançar o sonho da faculdade. Durante esse período, precisou pagar uma mensalidade de R$ 250 em um cursinho particular em Brejo Santo, com ajuda do pai e do avô. “Para muita gente esse valor é tranquilo, mas para uma família com renda limitada era um desafio. Minha mãe não podia ajudar porque só recebia o Bolsa Família.”

Na pandemia, a solidariedade fez a diferença. Um professor do Cariri cedeu materiais e uma bolsa integral, em troca do trabalho de Nattalos como professor de redação. A partir daí, ele passou a ensinar no formato home office, conciliando a atividade com os estudos. Professores e amigos também colaboraram. “Alguns me deixavam em casa de carro, porque sabiam que eu não podia perder o ônibus”, relembra.

O jovem também enfrentou o preconceito e a desconfiança de vizinhos, que chegaram a dizer que ele “ia ficar louco” por estudar tanto. As críticas sempre chegavam à mãe, que fazia questão de defendê-lo. “Ela dizia: ‘Ele tá chegando aos pouquinhos’. Sempre acreditou em mim.”

A tão sonhada aprovação chegou no dia 1º de janeiro de 2023, quando ele estava em um retiro espiritual. “Foi como tirar um peso muito grande das minhas costas. Eu disse: ‘Realmente, Deus me honrou’.”

Hoje, além de cursar Medicina e estagiar na universidade, Nattalos segue dando aulas de redação. Ele compartilha sua rotina de estudos e motivação nas redes sociais, onde busca incentivar outros jovens que, como ele, enfrentam dificuldades para alcançar um lugar na universidade pública.

Com planos de se especializar em cirurgia geral, ele reforça a importância de respeitar o próprio tempo: “Cada pessoa tem sua trajetória e desafios diferentes. Se você tem um objetivo, é só não desistir”.

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